segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Os crimes e erros do maoismo


Quando Mao Tsé-tung proclamou a República Popular da China, em 1º de outubro de 1949, após o Exército de Libertação Popular ter vencido a guerra civil(1927-1949), derrotando o Exército Nacionalista, do general Chiang Kai-chek, a população chinesa era de cerca de 500 milhões de habitantes e a expectativa de vida era de 35 anos.

Os nacionalistas se refugiaram em Taiwan, sobre proteção dos EUA, enquanto no continente, os comunistas aboliram antigos costumes que violentavam as mulheres chineses(como amarrar os pés das meninas para impedir que crescessem, o que desfigurava os seus pés), assim como investiram na educação popular. O general Chiang Kai-chek manteve o regime autoritário em Taiwan, enquanto os comunistas no continente estabeleceram o mesmo modelo de ditadura que existia na URSS, ou seja, o regime autoritário e burocratico dirigido pelo partido comunista, que era liderado por Mao Tsé-tung.

Os comunistas garantiram a unidade e a estabilidade do país. Antes da vitória da revolução socialista, a China estava um caos, pois havia ficado em guerra civil desde o final da Primeira Guerra Mundial. Primeiro foram os nacionalistas contra os chamados "senhores da guerra", quando os comunistas se aliaram aos nacionalistas para reunificar a administração do país. E depois foram os comunistas contra os nacionalistas, guerra que durou 22 anos(1927-1949). Além disso, a China travou a guerra contra o Japão, que teve início em 1937, e que depois tornou-se parte da Segunda Guerra Mundial. Por isso os chineses mantem respeito pela figura de Mao Tsé-tung, apesar de reconhecerem os seus erros.

Entretanto isso não é motivo para deixarmos de condenar os crimes da ditadura maoista. Um dia os chineses terão que fazer o mesmo. E esses crimes não foram poucos...

A ditadura maoista fez muita besteira, tanto que logo de imediato matou mais de 1 milhão de chineses, acusados de terem cometido "crimes contra o povo" durante o regime autoritário do general Chiang Kai-chek. Foram execuções sumárias, realizadas após julgamentos relampago sem nenhum compromisso com um mínimo de justiça. Esses julgamentos duraram até 1953, e resultaram na morte de 3 a 5 milhões de chineses.

Em 1950, a China invadiu o Tibete(que era um país independente desde 1912), e após descomprir os acordos firmados com os tibetanos em 1951, que garantiam autonomia e liberdade religiosa para a região em troca do reconhecimento de sua anexação pela República Popular da China, os chineses reprimiram brutalmente um levante nacionalista tibetano em 1959, matando cerca de 20 mil pessoas, o que obrigou o XIV Dalai Lama a fugir para o exílio na India.

Em 1958, a ditadura maoista lançou um programa que estabelecia a completa coletivização no campo e a rápida industrialização, que acabou fracassando e com isso provocou a morte de cerca de 30 milhões de camponeses, vitimados pela fome. Foi o "Grande salto para frente", que na verdade se tornou um "grande salto para trás".

"...milhões de camponeses foram levados a abandonar suas lavouras, para catar lenha e produzir aço em mini-usinas. O plantio da safra de 1958 foi totalmente abandonado e seguiu-se a fome generalizada. As estimativas são de que 30 milhões de camponeses podem ter morrido, desnecessariamente, como resultado do "Grande Salto Para Frente" do Presidente Mao." (Bernardo Kucinski; em Memórias Selvagens)

Se não bastasse isso, a ditadura maoista promovia campanhas contra supostos inimigos da revolução, principalmente após ter lançado uma campanha que incentivava criticas da população ao governo. Mao chegou a dizer: "deixem que floresçam cem flores". Infelizmente, quem caiu na besteira de se expor, acreditando na história das cem flores, acabou vítima da perseguição imposta pelo governo, uma vez que essas criticas sairam do controle, pois o povo passou a criticar o autoritarismo e o burocratismo. Iniciou-se então campanhas de repressão contra quem ousou fazer essas criticas.

"Nessa época, a intimidação política, através de campanhas resumidas em slogans canônicos, torna-se um método estabelecido de dominação e controle político e social."  (Bernardo Kucinski; em Memórias Selvagens)

Após o fracasso do "Grande salto para frente", o poder de Mao Tsé-tung sobre o governo e o partido ficou ameaçado. Por isso o ditador decidiu promover um grande expurgo contra seus supostos inimigos, fossem reais ou imaginários. Lançou então a "Revolução Cultural", uma verdade barbárie que promoveu a morte de cerca de 1 milhão de chineses, principalmente intelectuais e membros do próprio partido comunista.

"A Revolução Cultural é entendida como uma maquinação de Mao, para restabelecer um poder abalado pelo fracasso do "Grande Salto para Frente" e outros fracassos, e como uma operacionalização do profundo culto de personalidade, de caráter religioso, à figura de Mao.

Foi uma campanha ao mesmo tempo de jovens contra adultos, de arrivistas contra veteranos, de oportunistas contra ingênuos. Todos os maus espíritos escondidos no interior das pessoas, adormecidos na fase da luta contra o Kuomitng, despertaram e correram soltos durante a Revolução Cultural." (Bernardo Kucinski; em Memórias Selvagens)


O mais triste é que grande parte da esquerda, assim como havia apoiado a barbárie stalinista, também apoiou essa barbárie promovida por Mao Tsé-tung para se manter no poder.

"Como pudemos nos deixar enganar tanto, e durante tanto tempo? Como podemos admirar tão profundamente a Revolução Cultural chinesa, que humilhava velhos professores de barbas brancas, e levava ao suicídio militantes dedicados do Partido Comunista, que transformava jovens educados em imbecis raivosos e petulantes, que encobria através de uma onda de terror sofisticado, a incompetência e a senilidade de Mao Tsé Tung?"  (Bernardo Kucinski; em Memórias Selvagens)

E o pior de tudo é que depois de toda essa barbárie, Mao Tsé-tung ainda teve coragem de se aproximar do imperialismo yankee para combater a URSS, uma vez que se opunha a desestalinização promovida por Kruschev. Assim Mao promoveu uma verdadeira traição a causa socialista, pois a China apoiou a ditadura militar de Pinochet no Chile, e apoiou a direitista UNITA em Angola, que também tinha o apoio do regime racista sul africano e dos EUA. E mesmo assim, ainda existem esquerdistas inconsequentes que defendem o maoismo, como é o caso do MST, MLST, etc.

"Nos anos 70, a China se aproximou dos EUA. O presidente Nixon foi recebido com pompa por Mao e o governo chinês se alinhou sistematicamente ao imperialismo norte-americano, sob a justificativa de que a URSS representaria uma ameaça maior aos interesses do país. Isso fez com que a China chegasse ao absurdo de apoiar o ditador chileno Augusto Pinochet, uma vez que o governo de frente popular de Salvador Allende possuía boas relações com a URSS."

(Rodrigo Ricupero; em "Os 40 anos da Revolução Cultural Chinesa")


A China só se modernizou após a morte de Mao Tsé-tung, em 1976. Seus sucessores, tendo a frente Deng Xiaoping, criticaram duramente a "Revolução Cultural" e reconheceram que Mao cometeu erros, apesar de limita-los a apenas 30% de sua obra. Promoveram então profundas reformas economicas, abrindo o país para o capital estrangeiro e permitindo o estabelecimento do mercado e da propriedade privada. Com isso a China tornou-se a potência que é hoje. Entretanto, longe de caminhar para o socialismo, tem caminhado em direção ao capitalismo de estado.

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