Em 1º de outubro de 1949, após os comunistas terem derrotado o Kuomitang, vencendo a guerra civil, o revolucionário marxista-leninista Mao Tsé-tung proclamou a República Popular da China. Os soviéticos ajudaram os comunistas chineses nos primeiros anos de implantação do socialismo.
"A construção do socialismo chinês recebeu inicialmente um valioso apoio da URSS. A ajuda soviética veio em forma de assessoramento técnico, científico e, principalmente, financeiro. Entre 1950 e 1956, a assistência soviética contribuiu decisivamente para a recuperação e posterior desenvolvimento da economia chinesa." (Renato Cancian; em "Conflito entre China e URSS e o Grande Salto")
Assim como o socialismo na URSS e no Leste Europeu, o regime maoista era autoritário e burocratico, com o poder nas mãos do partido comunista e não dos trabalhadores. Milhões de chineses foram executados, após serem condenados por "crimes contra o povo", cometidos durante o regime do Kuomitang. E com o passar dos anos, o regime foi ficando mais autoritário, tornando-se uma espécie de versão chinesa do stalinismo.
Em 1956, o processo de desestalinização promovido por Kruschev na URSS, acabou levando a ruptura com a China, pois Mao condenou essa política como "revisionista", defendendo o legado stalinista. No final dos anos 50, em consequência do fracasso do "Grande Salto para Frente", ocorreu a morte de mais de 30 milhões de camponeses, vitimados pela fome.
"O Grande Salto tinha como premissa a mobilização de todos os recursos humanos da China, em particular da massa camponesa, que constituía cerca de 80% da população, a fim de acelerar o desenvolvimento econômico e a igualdade entre todos num curto período de tempo. Ironicamente, porém, o Grande Salto foi um desastre completo, que levou à desorganização da economia chinesa e ao aumento da fome no campo, acarretando a morte de milhões de camponeses.
O núcleo do projeto desenvolvimentista era a auto-suficiência e a auto-sobrevivência, ou seja, cada vilarejo deveria produzir os alimentos e os bens necessários. A obsessão para atingir metas de produção, porém, levou os dirigentes chineses a dispensarem o conhecimento técnico e o planejamento antecipado, precipitando o surgimento de problemas insolúveis para o país.
As minas de carvão que se proliferaram por todo o país arruinaram os campos férteis; o cultivo irregular de determinados grãos e alimentos ocasionaram o cansaço do solo; a construção de represas sem o devido planejamento e estudo técnico arruinou os solos, tornando-os imprestáveis para o cultivo; as máquinas agrícolas careciam de peças de reposição, entre inúmeros outros problemas." (Renato Cancian; em "Conflito entre China e URSS e o Grande Salto")
O desastre econômico e social provocado pelo Grande Salto a Frente, gerou conflitos internos de grandes proporções no PCCh - Partido Comunista Chinês, abrindo caminho para a perda de poder de Mao Tsé-tung. Para recuperar a economia, os novos dirigentes do Estado socialista chinês reavivaram alguns princípios característicos do sistema capitalista, como por exemplo, recompensas por esforços no trabalho. Eles também desmontaram as comunas rurais e readotaram o gerenciamento técnico na condução da produção econômica.
Entretanto Mao Tsé-tung não perdeu o poder por completo. Ele manteve-se como líder supremo do Exército de Libertação Popular (ELP) e, com o apoio dos militares e de facções políticas atuantes dentro do PCCh, Mao retomou as rédeas do Estado chinês, reconduzindo a seu modo a construção do socialismo.
"Mao deflagrou, em 1965, a contra-ofensiva sobre as facções políticas rivais dentro do PCCh que controlavam o Estado chinês. Ele criticou ferozmente aqueles que preconizavam a readoção de alguns princípios capitalistas na economia. Mao também defendeu a transferência do controle da Revolução para as mãos das massas (camponeses e operários), sob coordenação do Partido, como forma de avançar na construção de um sistema socialista próximo da igualdade absoluta. Para atingir esses objetivos, Mao Tsé-Tung decidiu aplicar ao conjunto da sociedade chinesa um vasto programa de educação política, seguindo o modelo aplicado ao ELP.
A Revolução Cultural começou oficialmente no outono de 1965. Com apoio do ELP, Mao e seus seguidores coordenaram um amplo expurgo que atingiu todas as esferas da vida social, política e econômica. Membros do PCCh, burocratas, políticos, militares e cidadãos comuns foram atingidos por uma onda repressiva.
A esposa de Mao, Jiang Qing, se transformou na figura dominante nas artes. Chamada de ditadora cultural, Qing exerceu domínio absoluto e determinou o que podia ser escrito, pintado, editado, cantado e exibido nos teatros e cinemas. Muitos cursos universitários foram fechados, professores e diversos profissionais ligados à produção artística perderam seus cargos e foram banidos para o campo.
Os alvos principais da doutrinação política que permeava a Revolução Cultural foram os jovens, em particular os estudantes de nível médio e universitário. Os jovens foram dispensados das aulas e o Estado providenciou alimento, transporte e alojamento para que percorressem o país, de cidade em cidade, como aguerridos militantes de esquerda.
Usando uma braçadeira vermelha em um dos braços, milhões de jovens formaram a Guarda Vermelha. A base doutrinária para a ação dos militantes era o célebre "Livro Vermelho" de Mao.
Um dos trechos do livro dizia: "O pó se acumula se um quarto não é limpo com freqüência, nossas faces ficam imundas se não forem lavadas com freqüência. A mente de nossos camaradas e o trabalho de nosso Partido também podem ficar empoeirados e também precisam ser varridos e lavados. O provérbio 'a água corrente nunca fica choca e os vermes nunca roem uma dobradiça' significa que o movimento constante impede a contaminação pelos germes e outros organismos".
Os militantes da Guarda Vermelha tinham por encargo desfechar a crítica aos revisionistas, aos direitistas, aos burgueses, aos burocratas do Partido e do Estado e até mesmo àqueles que adotavam estilos ocidentais de comportamentos. Além da crítica, eles também humilhavam e castigavam todos que resistiam à doutrinação socialista.
Durante o período em que a Guarda Vermelha atuou, a sociedade chinesa foi abalada por perseguições, execrações e julgamentos sumários em praças públicas. A Guarda Vermelha cometeu muitas atrocidades e espalhou o terror pela China. Também ocorreram muitos conflitos, alguns deles de grande proporção, principalmente no final da década de 1960, envolvendo militantes extremistas da Guarda Vermelha e as massas." (Renato Cancian; em "O Livro Vermelho de Mao e a Revolução Cultural")
A "Revolução Cultural" foi uma verdadeira barbárie. Cerca de 1 milhão de chineses foram mortos durante esse período, e as vitimas eram intelectuais e membros do próprio partido comunista. Além disso também teve milhões de chineses que foram presos, torturados, humilhados, etc.
"No início dos anos 70, a selvageria e desordem provocadas na sociedade chinesa pela atuação dos militantes da Guarda Vermelha trouxeram enormes problemas políticos para Mao. No seio do ELP e do PCCh surgiram críticas cada vez mais contundentes diante do caos e descontrole social e político provocados pelas ações da Guarda Vermelha.
Mao se curvou aos críticos e ordenou o desmonte da Guarda Vermelha e a desmobilização e dispersão dos 18 milhões de jovens. Gradualmente, Mao reconduziu a política chinesa de volta ao centro e reconheceu a necessidade do Estado e da nação chinesa de contar com o apoio de todos os cientistas, técnicos especializados, administradores e educadores que haviam sido purgados e exilados." (Renato Cancian; em "Deng Xiaoping promove reformas econômicas")
O pior de tudo é que Mao promoveu toda essa barbárie para recuperar o poder absoluto, usando como arma a critica contra supostos desvios direitistas existentes no PCCh e na sociedade chinesa. E quem realmente promoveu esses desvios foi ele próprio, ao se aproximar dos EUA, no começo dos anos 70, após quase ter desencadeado uma guerra contra os soviéticos em 1969.
Enquanto as bombas assassinas do imperialismo yankee caiam sobre o Vietnã, o Laos, e o Camboja, Mao Tsé-tung recebia o presidente Richard Nixon de braços abertos em Pequim, em 1972. Mao, que acusava os soviéticos de "revisionistas" em virtude da política de coexistência pacífica promovida por Kruschev a partir do XX Congresso do Partido Comunista da URSS, fez pior, pois enquanto os soviéticos apoiavam o governo comunista do MPLA, em Angola, Mao Tse-tung apoiava os rebeldes da UNITA, que também recebiam o apoio do imperialismo yankee e do regime racista do Apartheid sul africano. E mais, a China maoista não condenou o golpe contra Salvador Allende, no Chile, chegando inclusive a apoiar a ditadura do general Augusto Pinochet.
"Nos anos 70, a China se aproximou dos EUA. O presidente Nixon foi recebido com pompa por Mao e o governo chinês se alinhou sistematicamente ao imperialismo norte-americano, sob a justificativa de que a URSS representaria uma ameaça maior aos interesses do país. Isso fez com que a China chegasse ao absurdo de apoiar o ditador chileno Augusto Pinochet, uma vez que o governo de frente popular de Salvador Allende possuía boas relações com a URSS."
(Rodrigo Ricupero; em "Os 40 anos da Revolução Cultural Chinesa")
A "Revolução Cultural" terminou oficialmente em 1976, ano em que Mao Tsé-Tung morreu. Seus sucessores reconheceram que erros foram cometidos, criticando duramente a "Revolução Cultural", que foi considerada como um "desvio esquerdista". A viúva de Mao junto com outros 3 dirigentes foram presos, sendo condenados como responsáveis pelos crimes cometidos durante essa época.
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