quinta-feira, 19 de janeiro de 2012
O erro de Lênin
Os filósofos e revolucionários alemães Karl Marx e Friedrich Engels foram os fundadores do "socialismo científico", que afirma ser a luta de classes o motor que move a história. Na atual sociedade capitalista, a burguesia é a classe dominante, e a luta do proletariado(trabalhadores) contra a burguesia acabará resultando em uma revolução socialista, que levará o proletariado ao poder, destruindo o capitalismo. A propriedade dos meios de produção será socializada, e a economia planificada pelo Estado proletário, eliminando o mercado. Nesse processo, a divisão do trabalho chegará ao fim, acabando assim com a divisão da sociedade em classes antagônicas. Ocorrendo isso, o Estado irá desaparecer e todos serão iguais do ponto de vista econômico e social, acabando com a exploração do homem pelo homem.
O revolucionário Vladimir Ilitch Lênin reinterpretou a teoria marxista, desenvolvendo a teoria do partido revolucionário como vanguarda do proletariado. Lênin afirma que os trabalhadores sozinhos não são capazes de realizar a revolução socialista, precisando ser liderados por uma vanguarda constituida por revolucionários profissionais(o partido comunista), para que a revolução ocorra. Oras, se o proletariado precisa ser dirigido por essa vanguarda, é lógico que o novo Estado surgido da revolução socialista será dirigido por essa vanguarda, originando assim a ditadura do partido comunista. E a história confirmou isso.
O modelo desenvolvido por Lênin foi vitorioso na Rússia, mas ao invés de levar os trabalhadores ao poder, acabou levando o partido comunista ao poder, iniciando assim o deslize autoritário que acabou resultando no totalitarismo stalinista.
Portanto não basta condenar Stalin, precisa-se fazer uma profunda autocrítica para se reconhecer os erros que possibilitaram o surgimento do stalinismo. Não podemos tapar o sol com a peneira, Lènin e demais revolucionários bolcheviques cometeram erros que possibilitaram o surgimento da degeneração stalinista. Citando o filósofo marxista Ruy Fausto: "Não que eu suponha uma simples continuidade entre bolchevismo e stalinismo. Mas afirmo sim que o totalitarismo stalinista é impensável sem o bolchevismo, e que há linhas reais de continuidade entre os dois". (Ruy Fausto; "Em Torno da Pré-História Intelectual do Totalitarismo Igualitarista")
O socialismo precisa ser refundado, abandonando toda herança autoritária e resgatando o melhor do pensamento marxista. Nesse sentido é de extrema importância as reflexões de Antonio Gramsci, pois elas possibilitam a construção do socialismo com liberdade e democracia, fundado no consenso e não somente na coerção, construindo uma concepção de socialismo segundo a realidade da luta de classes no século XXI.
"Distinguindo-se dos social-democratas que se opuseram à revolução bolchevique e à União Soviética (Kautsky, Bernstein e tantos outros), Gramsci - tal como Rosa Luxemburg -- defende a necessidade da revolução e se solidariza, ainda que criticamente, com seus primeiros passos. Mas, ao mesmo tempo, dissocia-se claramente dos rumos que a União Soviética começou a tomar a partir dos anos 30, quando a estatolatria se tornou "fanatismo teórico" e converteu-se em algo "perpétuo", consolidando assim um "governo dos funcionários" que, ao reprimir a sociedade civil e as possibilidades do autogoverno democrático dos cidadãos, gerou um despotismo burocrático que nada tinha a ver com os ideais emancipadores e libertários do socialismo marxista. (...)
Gramsci nos propõe um outro modelo de socialismo, um modelo no qual o centro da nova ordem deve residir não no fortalecimento do Estado, mas sim na ampliação da "sociedade civil", de um espaço público não estatal. Na "sociedade regulada" - o belo pseudônimo que encontrou para designar o comunismo --, Gramsci supõe (e volto a citá-lo) que "o elemento Estado-coerção pode ser imaginado como capaz de se ir exaurindo à medida que se afirmam elementos cada vez mais numerosos de sociedade regulada (ou Estado-ético, ou sociedade civil)". Ora, como se sabe, as instituições próprias da sociedade civil são o que Gramsci chama de "aparelhos ''privados'' de hegemonia", aos quais se adere consensualmente; e é precisamente essa adesão consensual o que os distingue dos aparelhos estatais, do "governo dos funcionários", que impõem suas decisões coercitivamente, de cima para baixo. Portanto, afirmar "elementos cada vez mais numerosos" de sociedade civil significa ampliar progressivamente o âmbito de atuação do consenso, ou seja, de uma esfera pública intersubjetivamente construída, fazendo assim com que as interações sociais percam cada vez mais seu caráter coercitivo."
(Carlos Nelson Coutinho; em "Atualidade de Gramsci")
Antonio Gramsci é o teórico da revolução socialista nas sociedades capitalistas desenvolvidas, onde o poder não está restrito aos palácios, mas disperso na "sociedade civil", ou seja, nos sindicatos, associações, universidades, igrejas, imprensa, etc. Nesse tipo de sociedade, os socialistas precisam disputar e conquistar a hegemonia na sociedade, antes de conquistar o poder político.
"Gramsci foi um pensador muito além de seu tempo. Seus conceitos são ainda operacionais para a realidade contemporânea. Ele era um pensador bastante sofisticado e deixou indicações preciosas sobre o papel dos aparatos de hegemonia na manutenção da dominação de classe. Eu destacaria o conceito de sociedade civil que, no aspecto institucional, diz respeito ao conjunto das instituições privadas de hegemonia, as quais difundem ou criticam a ideologia dominante: jornais, TVs, rádios, editoras, teatros, cinemas, escolas, igrejas, partidos, sindicatos. Boa parte da esquerda compreendeu que a luta pelo socialismo passa primordialmente por estes meios, e não por um simples assalto militar ao poder."
(Lincoln Secco; em "O conceito de sociedade civil como uma das maiores contribuições de Gramsci")
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